quinta-feira, janeiro 29

Alberto,

com tanto lugar no mundo, você veioparar justo na mesma gaveta que eu? Não é desgosto não, é algo mais parecido com estreitamento de ânimos ou descolorização. Se me enrolo toda como uma bolinha selvagem e aprecio rolar neste quadradro fechado e escuro com tanto prazer, é para que depois possa amaciar os pés dessa jóvem fulana sem nenhuma espécie de dor. Mas não queira saber o que há por dentro das minhas listras, levemente gastas eu sei, porque esse é o espelho que só eu olho. As outras meias também agradecem a sua reserva e discrição.

Paula.

segunda-feira, janeiro 26

O arco-íris do mundo se abriu cheio de delicadeza no peito: anunciando tardes frescas, adocicadas e próprias para decisões que envolvem abrir e fechar as paixões. Foi o que deu nas previsões!

quinta-feira, janeiro 22

Por que não pensei nisso antes? falou sozinha a mulher-flor abrindo suas pétalas, rosas e cheirosas, para a vida. Seus pensamentos cor de cereja deram um colorido ainda mais forte ao seu corpo e seus braços, quando se elevaram, pareciam pontes enormes e firmes, que davam passagem aos outros. "É tão bom descobrir um segredo", pensou sorrindo.

segunda-feira, janeiro 19

As pessoas hoje acordaram apressadas e escovaram os dentes com um pouco de raiva e saíram logo de casa com medo de perder o trajeto da idéia, que é sempre a mesma e mora do lado direito da vida e nega de qualquer jeito que haja um fim.
Enquanto a grama se espreguiçava no jardim.

quinta-feira, janeiro 15

Esse é o caso da Josefina: transparente aos olhos de quem a procura. Existe, é palpável, tem uma brancura fina e suave e gosto de amora, embora ela não confirme. Há quem diga que é birrenta, empacada e egoísta. Eu não acho. Ela é bem graciosa quando se enrola em suas voltas com o tempo. E o melhor: tem Josefina para todo mundo!

segunda-feira, janeiro 12

Quina é a ponta da mesa
a virada da esquina
os dedos da mão unidos
a dobra do joelho
também: a volta do amor
a palavra quebrada
idéia arrependida
A chegada é a saída
vento perdido
nariz adunco
a quina de alguém
A minha quina:
tem dois motivos

quarta-feira, janeiro 7

Ela entrou pela porta da frente, com a testa larga e olhos comprimidos. Pediu água com açucar para a moça do balcão. Esperou batendo os dedos com força na madeira até tomar o copo nas mãos e virar tudo de uma vez. Só então: olhos nos olhos da moça. Disse que estava tudo acabado. Se virou bruscamente para a porta como quem sai da vida. A moça ficou. Mas não deixou de pensar no que podia ter acabado.

domingo, janeiro 4

sexta-feira, janeiro 2

idéias regadas à vinho
mãos coloridas
promessas descompridas
espaço para ter
seis pessoas em volta da mesa
três santos
rosas vermelhas e amarelas
o ano novo vindo a pé
bem tranquilo