quarta-feira, novembro 26

O asfalto era cinza bruto, cor tão dela. Sua blusa vermelha, cor preferida e o céu esverdeado como ela. Havia um velho na calçada que tecia a rede branca. Com uma ponta presa na janela e a outra acariciada pelas mãos enrugadas e carinhosas. Foi tudo que viveu no dia: um velho tecendo e o asfalto caminhando.

segunda-feira, novembro 24

a vida da minha vida
branca como a idéia
foi passear na avenida
acenando para a platéia

quinta-feira, novembro 20

muito tempo com
muito tempo sem
ele tentou o máximo que podia
ser ao contrário do bem
desviou do amém
desenganchou o f do é
pintou o céu de vermelho
e mesmo assim nada mudou

ele acha que tudo depende dele

segunda-feira, novembro 17


meu irmão veio

viramos três cartas

apertamos o peito por Cabíria

desviramos sete copos

e deixamos para próxima

os antigamentes

quinta-feira, novembro 13

Querido,

Que lugar lindíssimo!! Se estivesse ai, ia ter que ir embora arrastada. Ainda mais com esses doces!!! Deus é grande até na cozinha!!!
Sinto saudades também. Ficar em casa é difícil sem você. Tenho ficado mais tempo na rua. Vejo lojas, passo horas na sala de poltronas rosas e ouço muitas lágrimas nos outros. Quando estou aqui: escrevo. E convivo com três estranhos: inexplicavelmente comem, dão risada e tomam banho. Imagina!!
Chove dentro, fora, pra cima e pra baixo. O tempo todo e todíssimo.
Sonho que faço roupas e roupas. E depois que estou nadando, em águas claríssimas e alegres. Ah! Também sonhei que recebi uma carta minúscula da irmã da Adélia Prado e dizia assim: todo homem de qualquer raça, cor e tamanho pode mudar! Contei para meu pai e ele gemeu (pra variar não entendi). Agora repito comigo: posso mudar, mas não sei o que. Oba!
Querido, aproveite seu momento aí. Viu como você soluciona bem as coisas?? Sair para caçar o lugar das emoções!! Assim, ninguém morre, ninguém parte. Alguém viu um coração?

continue com sorte

amor

de mim

quarta-feira, novembro 12

costurei asas nas costas e poesias no peito
uma para não me esquecer
e a outra para voar:
tão simples a vida

quarta-feira, novembro 5

O tempo estreito
cabe no bolso direito
da calça xadrez
No outro bolso:
O louco
uma pequena página
arrancada
e que não era do fim

segunda-feira, novembro 3

O encontro dos olhos
em avenidas desertas
na palma aberta da mão
Só havia você:
meio manco, meio doce
montanhoso e inteiro
Na página vinte e três
do livro com capa azul
entre tantas as vírgulas
Só havia você.